Bem-estar, o novo e necessário foco das cadeias de suprimentos

O conceito de bem-estar tem sido amplamente desenvolvido e envolve as dimensões de saúde, educação, trabalho, meio ambiente e melhora da sociedade

Por André Duarte e Vinicius Picanço/Exame 08/03/2023 - 06:59 hs

Há certo consenso de que bem-estar é uma aspiração compartilhada por todos. O conceito de bem-estar tem sido desenvolvido ao longo dos anos e envolve as dimensões de saúde, educação, trabalho, meio ambiente e prosperidade do indivíduo e da sociedade. Iniciativas como OECD Better Life Index buscam medir a qualidade de vida além das estatísticas puramente econômicas, conferindo uma profunda visão de impacto social ao conceito.

O bem-estar está particularmente ligado à percepção mais ampla de saúde em seus diversos aspectos: mental, emocional, social, econômica, espiritual, ambiental e política. “Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades” é o terceiro Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU e deveria ser o principal objetivo final das cadeias de suprimentos.

A crise provocada pela pandemia chamou a atenção para a capacidade de adaptação e resposta das cadeias de suprimentos, garantindo suprimentos vitais à sociedade. Vários foram os exemplos de cadeias que mostraram resiliência.

Com o fechamento de bares e restaurantes, projetos sociais, como o Campo Favela, ajudaram cadeias de alimentos mais frágeis a redirecionarem o escoamento de produtos para atender populações vulneráveis, garantindo segurança alimentar e acesso a alimentos de alto poder nutritivo, além de proteger renda em meio a uma profunda crise socioeconômica.

As cadeias farmacêuticas mostraram capacidade de inovação através do desenvolvimento de testes e vacinas em tempo recorde, além de garantir o fornecimento seguro de insumos médicos críticos. O varejo tradicional teve que repensar o papel das lojas físicas, transformando-as em estoques avançados para atender seus clientes.

Em todos estes casos, as organizações das cadeias envolvidas tiveram que trabalhar juntas para garantir o bem-estar da sociedade, gerando profundo impacto social em suas várias dimensões.

Os riscos de interrupções no abastecimento de produtos, a necessidade de garantir a saúde e segurança das pessoas e as mudanças repentinas no comportamento dos consumidores foram gatilhos para que as cadeias de suprimentos repensassem as suas prioridades.

A pandemia mostrou como as percepções de valor na sociedade podem mudar rapidamente, passando a incluir necessidades de bem-estar, além das tradicionais ligadas à eficiência, rapidez e qualidade.

Atender populações vulneráveis em tempos de crise é importante e valioso. Porém, as cadeias de suprimentos devem ir além e desenhar soluções que transformem a sociedade, colocando impacto social no topo da agenda de prioridades.

Uma visão transformadora das cadeias busca a inclusão social, promove a redução da pobreza, assegura sustentabilidade e dá acesso a serviços cruciais para o bem-estar individual e coletivo.

As cadeias de suprimentos terão papel cada vez mais decisivo no desenvolvimento de estratégias robustas de gestão envolvendo não somente indicadores convencionais econômicos, mas também os de bem-estar social, respeitando os limites ambientais do planeta.

É preciso que as pessoas sejam colocadas no centro das cadeias de suprimentos, lugar hoje dominado pelos produtos e suas jornadas. As cadeias devem servir às pessoas, ter responsabilidade ambiental, gerar empregos, dar condições seguras a trabalhadores e clientes e, como consequência, melhorar a satisfação com a vida, proporcionando bem-estar a todos, em especial, indivíduos e comunidades mais vulneráveis. O bem-estar deve ser a preocupação primeira das cadeias para que cumpram seu papel central na geração de impacto social duradouro e profundo.